Escola Olodum Sul: Promovendo a cultura afro-brasileira e inclusão em Florianópolis

EDUCAÇÃO

Luiza Ferreira

5/24/20245 min read

Imagine uma escola onde o som dos tambores ecoa pelos corredores e as aulas de história vêm acompanhadas de passos de dança. Em Florianópolis, esse lugar incrível existe e se chama Escola Olodum Sul. Muito mais do que um simples espaço de aprendizado, essa escola é um verdadeiro laboratório cultural que transforma vidas através da música, dança e da valorização da cultura afro-brasileira.

A Escola Olodum Sul fica localizada no Terminal desativado no bairro Jardim Atlântico. (Foto: Luiza Ferreira)

A Escola Olodum Sul, é um projeto revolucionário e transformador que nasceu de uma inspiração divina, conforme conta Marcos, o líder por trás da iniciativa. A ideia surgiu em 2015, quando Marcos Canetta, um sacerdote de umbanda, recebeu uma mensagem do seu Orixá Exu, instruindo-o a trazer a Escola Olodum para a Capital Catarinense. Mesmo enfrentando dúvidas e ceticismos, especialmente de sua esposa, ele decidiu seguir o chamado espiritual e embarcar para Salvador, onde convenceu a renomada instituição cultural a estabelecer uma filial fora de seu local de origem pela primeira vez.

“Nós estamos no segundo lugar mais branco da federação e talvez o lugar mais racista e mais eurocentro da federação. Então, se teria que ter uma escola do Olodum com a tecnologia pan-africana, com a técnica antirracista que o Olodum já tem há 40 e poucos anos, teria que ser no Estado de Santa Catarina, um modelo muito importante para a América Latina e para o mundo, se viesse a dar certo. E ao longo do tempo eles compreenderam isso.”

O processo de concretização do projeto foi longo e desafiador, levando três anos e meio de negociações e reuniões tanto em Salvador quanto em Florianópolis. A persistência e a visão de Marcos se mostraram fundamentais para superar as barreiras iniciais e ganhar a confiança do Olodum. A inauguração da instituição, no meio da pandemia de Covid-19, marcou o início de uma nova era para a cultura afro-brasileira na região sul do Brasil. Marcos afirma que “a Escola do Olodum Sul, mesmo sem recurso público, é hoje, para o Brasil, uma das grandiosas potências hispano-africanas, antirracista e de luta de mulheres e povos amerinos.”


Desde sua fundação, a escola tem sido um polo de impacto social e cultural, acolhendo milhares de pessoas e oferecendo uma vasta gama de atividades. Com 17 oficinas, incluindo artes marciais, moda, cinema, música, dança, e até cursos de programação, a escola é um verdadeiro celeiro de talentos e potencialidades. Entre seus alunos estão crianças, adolescentes e adultos, todos buscando emancipação pessoal e profissional por meio da educação e da cultura afro-brasileira. O líder explica que “a oportunidade para jovens, adolescentes e adultos é para aqueles que querem mudar as suas vidas, querem aprender coisas novas e querem traduzir essas técnicas como forma de trabalho, podendo ajudar a sua família a desenvolver renda e a melhorar a qualidade de vida”.

Marcos destaca que o sucesso da escola é resultado de um planejamento meticuloso e uma abordagem inclusiva que desafia o eurocentrismo e promove o pan africanismo. A escola ensina não apenas habilidades técnicas, mas também valores fundamentais como o anti racismo, a luta contra a misoginia e a homofobia, e a importância da preservação ambiental. Esses princípios são aplicados de forma transversal em todas as atividades, impactando profundamente a autoestima e o empoderamento dos alunos.

A comunidade ao redor da instituição também se beneficia. Localizada no Jardim Atlântico, em uma região marcada por alta vulnerabilidade social, a escola oferece um espaço neutro e seguro onde todos podem se desenvolver e expressar suas potencialidades. Marcos enfatiza a importância de transformar as dificuldades em oportunidades, como por exemplo a trajetória de Thiago, um aluno que superou inúmeros desafios pessoais para se tornar um professor de dança e lutador de boxe.

Aqui nós vendemos sonhos e também apontamos possibilidades. Aqui o sonho é real, concreto, acordado. Se o aluno tiver ânimo, disciplina e força de vontade, você se torna um expoente. A escola é só uma passagem. É como uma espécie de funil que quando você entra no portão, entra de uma forma, mas quando sair lá na última porta da escola, você sai transformado pelo pan africanismo, pelas possibilidades que essa escola te dá.”

A expansão da escola será importante para a comunidade, trazendo novas oportunidades e fortalecendo os laços locais. A criação de um espaço de eventos será um lugar onde todos poderão se reunir, celebrar e aprender juntos, tornando a escola um verdadeiro centro de convivência. A criação da quadra esportiva será um ótimo local para atividades físicas, promovendo saúde e bem-estar para crianças e adultos. Além disso, o museu digital sobre a cultura afro-brasileira permitirá que todos, especialmente os jovens, conheçam e valorizem a rica história e as tradições. Esses novos espaços transformarão a escola em um ambiente ainda mais acolhedor e educativo, beneficiando a todos de maneira significativa.

A instituição é, sem dúvida, um importante exemplo de como a cultura e a educação podem transformar vidas e comunidades. Através de parcerias com a iniciativa privada e a dedicação de voluntários, a escola se mantém autossustentável e independente de recursos públicos, provando que a vontade de mudar e a crença nas próprias potencialidades são motores poderosos para a construção de um futuro melhor.

Com menos de dois anos de funcionamento, a escola já recebeu visitas de dignitários internacionais e impactou milhares de vidas, demonstrando seu papel vital na luta antirracista e na promoção da cultura afro-brasileira. A Escola Olodum Sul não é apenas um local de aprendizado, mas um verdadeiro movimento de transformação social que está exportando seu modelo de sucesso para outras regiões, mostrando que é possível criar um mundo mais justo e inclusivo a partir da valorização da diversidade e do respeito às raízes culturais.

(Foto: Luiza Ferreira)

Marcos Canetta Rufino é historiador com Pós em Gestão de Pessoas nas Organizações, Pós em Direitos Humanos, Mestrado em Gestão do Patrimônio Cultural, Escritor, Palestrante, Policial Civil e líder da Escola Olodum Sul.

Para saber mais sobre a escola e acompanhar os eventos organizados, siga no instagram @olodumsul